sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Hermes Trimegisto e a nobreza oculta da verdadeira sabedoria dos maçons operativos e especulativos

Por Arthur Feitosa Vieira Monteiro, 18/07/2018


Hermes Trimegistos


INTRODUÇÃO
A dissociação de Hermes Trimegistus das doutrinas iniciáticas ou esotéricas torna-se quase inconcebível, pois geralmente os ensinamentos fazem referência direta ou indireta aos princípios Herméticos.
No arrasto, a maçonaria operativa e especulativa, ao longo do tempo, com suas conformações, adaptações e diversificação de ritos também incorpora de forma sutil parte dos ensinamentos deixados por Hermes Trimegistus.
De um lado temos registros históricos dos procedimentos operativos e de outro lado textos e poemas que ressaltam lendas e mitos sem comprovação documental sobre as características da maçonaria nas suas origens. Como percebe-se a relação da maçonaria com estes ensinamentos de sabedoria? Será que as tradições se utilizam de conhecimentos e histórias verídicas?

MAÇONS OPERATIVOS E ESPECULATIVOS
A maçonaria configura-se inicialmente como associação de pedreiros livres, formadas por construtores oficiais na Europa para os Reis e para a da Igreja Católica Apostólica Romana. Com o progresso das associações de maçons operativos conforme Prof Luiz Gonzaga:
Os maçons têm, por hábito, procurar as raízes históricas profundas da maçonaria. Chegam buscar suas origens na Carta de Bolonha. É o mais antigo documento comprovadamente maçônico no mundo, conhecido como “Carta de Bolonha” e data de 1248. Seu nome original é “Statuta et Ordinamenta Societatis Magistrorum Tapia et Lignamilis”. Foi redigido originalmente em latim por um escrivão público, sob ordem do Prefeito de Bolonha, Bonifaci di Cario, no dia 08 de Agosto de 1248. Em seu conteúdo fica claro que essa Maçonaria Operativa Italiana já era tradicional, antiga, contendo sólida estrutura e hierarquia, bem anterior à data de registro da Carta. (ROCHA, 2017, p.. 89)

A História da Maçonaria conta com tradições Operativas e Especulativas. Segundo o paradigma de Gould, que é amplamente divulgado no Brasil, a maçonaria operativa tornou-se especulativa quando passou a aceitar homens que não participavam como operários da construção, ou seja, pedreiros. Já as tradições originais e operativas estão alicerçadas em textos que produzem uma ordem nas relações entre os operários construtores, na forma de estatutos. Regras, histórias e lendas fazem parte de alguns textos antigos pertencentes a maçonaria operativa tais como Carta de Bolonha, Manuscrito Regius e Manuscritos de Cooke.
Inicialmente como associação de pedreiros livres, formadas por construtores oficiais na Europa para os Reis e para a da Igreja Católica Apostólica Romana traziam conhecimentos de Geometria e as suas técnicas eram amplamente utilizadas nas construções, conforme o Manuscrito Regius é datado em cerca do ano de 1390 d.C:
A Maçonaria, nele, é conhecida como Geometria; o Poema Régio não faz menção ao Templo de Salomão e nem a Hiram Abif. Destaca dois personagens: Euclides, o geômetra grego alexandrino do século III a.C. e Noé bíblico; (guarda similaridades com a Constituição de Anderson). Relata que o grêmio estabeleceu-se em York, em 926, sob o patrocínio do Príncipe Edwin, irmão, meio irmão ou sobrinho do rei Atelsthan. (GUIMARÃES, 2017, p.38).
Segundo o Prof. Luiz Gonzaga Rocha, ao final da sua obra Ciência, Artes e Literatura Maçônica, chama a atenção para a leitura obrigatória dentre as quais consta o Manuscrito Regius.
Quando a maçonaria foi caracterizada como especulativa, os instrumentos e símbolos foram utilizados à época foram incorporados aos seus rituais para reflexão dos maçons. O objetivo principal dos símbolos é que o maçom medite em cada um ou em combinações deles para a busca constante do conhecimento e auto aperfeiçoamento moral. Percebe-se que as doutrinas maçônicas facilitam o caminho para alcançar a sabedoria.


HERMES TRIMEGISTO
Hermes Trimegistus ou Hermes, três vezes grande, é conhecido como um filósofo que viveu na região de Nines por volta de 1500 a 2500 a.C. Devido a complexidade e aspectos dos ensinamentos restritos a pequenos grupos, sobre a transformação do ser humano, até hoje tradições alquimistas utilizam o termo hermético como algo fechado.
Mas entre estes Grandes Mestres do antigo Egito, existiu um que eles proclamavam como o Mestre dos Mestres. Este homem, se é que foi verdadeiramente um homem, viveu no Egito na mais remota antiguidade. Ele foi conhecido sob o nome de Hermes Trismegisto. Foi o pai da Ciência Oculta, o fundador da Astrologia, o descobridor da Alquimia. Os detalhes da sua vida se perderam devido ao imenso espaço de tempo, que é de milhares de anos, e apesar de muitos países antigos disputarem entre si a honra de ter sido a sua pátria. A data da sua existência no Egito, na sua última encarnação neste planeta, não é conhecida agora mas foi fixada nos primeiros tempos das mais remotas dinastias do Egito, muito antes do tempo de Moisés. As melhores autoridades consideram−no como contemporâneo de Abraão, e algumas tradições judaicas dizem claramente que Abraão adquiriu uma parte do seu conhecimento místico do próprio Hermes.
Depois de ter passado muitos anos da sua partida deste plano de existência (a tradição afirma que viveu trezentos anos) os egípcios deificaram Hermes e fizeram dele um dos seus deuses sob o nome de Thoth. Anos depois os povos da Antiga Grécia também o deificaram com o nome de Hermes, o Deus da Sabedoria. Os egípcios reverenciaram por muitos séculos a sua memória, denominando−o o mensageiro dos Deuses, e ajuntando−lhe como distintivo o seu antigo título Trismegisto, que significa o três vezes grande, o grande entre os grandes. (CAMAYSAR, 1978)
A mais importante obra deixada por Hermes Trimegistus é o Caibalion, corruptela grega da palavra cabala, trata de sete princípios universais, ou chamados de leis herméticas a seguir:
  1. Lei do Mentalismo: O Todo é Mente; o Universo é mental;
  2. Lei da Correspondência: O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora;
  3. Lei da Vibração: Nada está parado, tudo se move, tudo vibra;
  4. Lei da Polaridade: Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliáveis;
  5. Lei do Ritmo: Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação;
  6. Lei do Gênero: O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o gênero manifesta-se em todos os planos da criação;
  7. Lei de Causa e Efeito: Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nada escapa à Lei;
Embora os princípios herméticos sejam amplamente utilizados como base esotérica, O Mito de Hermes Trimegistus foi desmascarado quando em 1610, Jaime solicitou um estudo crítico sobre Annales ecclesiastici, de Baronius, no qual se assenta o ataque dirigido à lenda a venerável antiguidade da Hermética a Issac Caubon, erudito na história da Igreja, conforme citado por (WILLIAM, 2017):
O desmascaramento de Hermes Trismegistos foi feito na obra inacabada, pois faleceu antes de finalizá-la, de Casaubon – De rebus sacris et ecclesiasticis exercitationes XVI – um comentário eruditíssimo àquela obra de Baronius: Annales ecclesiastici. Casaubon afirma que os textos atribuídos a Hermes Trismegistos foram forjados nos tempos dos primeiros cristãos, a fim de tornar a nova doutrina agradável aos gentios. Seriam de autoria de cristãos ou neo-platônicos semi-cristãos; falsificações feitas com bons propósitos, mas detestáveis porque inverídicas historicamente. Possivelmente houvesse uma pessoa real, concede ele, de grande antiguidade chamada Hermes Trismegistos, mas que não pode ter sido o escritor das obras a ele atribuídas. Elas não contêm as doutrinas de um antigo egípcio; são em parte, escritos de Platão e dos platônicos, e em parte, de livros sagrados cristãos. O Pimandro contém ecos de Platão, particularmente do Timeu; do Gênese; e do Evangelho segundo São João. As Potestades, no Corpus hermeticum XIII, lembram a Epístola de São Paulo aos romanos. Muitos hinos provêm de antigas liturgias, particularmente as de São João Damasceno, ou dos Salmos. Os tratados sobre a ‘regeneração’ são insinuados por São Paulo; por Justino, o Mártir; por Cirilo; por Gregório Nazianzeno e outros.
A citação de Fídias e os jogos pítios, inexistentes nas priscas eras, e finalmente o estilo, são a pedra de cal final no desmascaramento de Hermes Trismegistos.
Pelo exposto, pensamos poder, agora, resgatar e estudar o pensamento dos escritos neo-platônicos, atribuídos a Hermes Trismegistos (WILLIAM, 2006, p.71).

INVENÇÕES E TRADIÇÕES MAÇÔNICAS
Ao retornarmos à introdução, chama-se a atenção a reflexão sobre os registros históricos dos procedimentos operativos, textos e poemas que ressaltam lendas e mitos sem comprovação documental sobre as características da maçonaria. Deve-se ter o cuidado e atenção para não utilizar-se de elementos antigos para comprovação da origem das tradições.
Mais interessante, do nosso ponto de vista, é a utilização de elementos antigos na elaboração de novas tradições inventadas para fins bastante originais. Sempre se pode encontrar, no passado de qualquer sociedade, um amplo repertório destes elementos; e sempre há uma linguagem elaborada, composta de práticas e comunicações simbólicas. As vezes, as novas tradições podiam ser prontamente enxertadas nas velhas; outras vezes, podiam ser inventadas com empréstimos fornecidos pelos depósitos bem supridos do ritual, simbolismo e princípios morais oficiais - religião e pompa principesca, folclore e maçonaria (que, por sua vez, é uma tradição inventada mais antiga, de grande poder simbólico). (HOBSBAWM, 1984,p. 14)


CONCLUSÃO

Nos principais ritos praticados no Brasil, os rituais das iniciações mantêm características esotéricas pertinentes a conceitos alquímicos para simbolicamente realizar a transformação do homem comum em um novo homem com a atenção voltada para a iluminação.
Mesmo com a desconstrução do mito de Hermes Trimegistus é precipitado desconsiderar os princípios que são utilizados em vários segmentos da sociedade, em especial na atualidade pela física quântica.
A maçonaria em sua doutrina faz com que o maçom busque incessantemente o aperfeiçoamento moral e em consequência trata da alma humana com os seus símbolos que trazem informações desde a sua organização em 1717, deixa claro que não é permitida discussões religiosas, embora incentive os estudos e discussões sobre diversos temas e em especial a transformação da pedra bruta na pedra lapidada, ou seja, na lapidação moral do homem. E por que não utilizar as leis ou princípios Herméticos como ferramenta para essa transformação alquímica, da pedra bruta em lapidada? Com isso a maçonaria evidencia a sabedoria quando se utiliza de conhecimentos antigos compilados em  símbolos e alegorias para transformar o homem em um ser humano melhor.


REFERÊNCIAS
— ROCHA, Luiz Gonzaga– História da Maçonaria: Contextualidade e Ação da Maçonaria na Política Mundial – UnyLeya, 2017.
— GUIMARÃES, João Francisco – História da Maçonaria: Consolidação, Expansão e Conflitos Institucionais – Distrito Federal – UnyLeya, 2017.
— HOBSBAWM, Eric . A invenção das tradições. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
— CARVALHO, William Almeida de -  História da Maçonaria: Das Origens Corporativas à Maçonaria Moderna – Distrito Federal – UnyLeya, 2017.
— CAMAYSAR, Rosabis -  O Caibalion – São Paulo - Editora Pensamento -1978

Nenhum comentário:

Postar um comentário