Por Arthur Feitosa Vieira Monteiro, 18/07/2018
Hermes Trimegistos
INTRODUÇÃO
A dissociação de Hermes
Trimegistus das doutrinas iniciáticas ou esotéricas torna-se quase
inconcebível, pois geralmente os ensinamentos fazem referência direta ou
indireta aos princípios Herméticos.
No arrasto, a maçonaria
operativa e especulativa, ao longo do tempo, com suas conformações, adaptações
e diversificação de ritos também incorpora de forma sutil parte dos
ensinamentos deixados por Hermes Trimegistus.
De um lado
temos registros históricos dos procedimentos operativos e de outro lado textos e
poemas que ressaltam lendas e mitos sem comprovação documental sobre as
características da maçonaria nas suas origens. Como percebe-se a relação da
maçonaria com estes ensinamentos de sabedoria? Será que as tradições se
utilizam de conhecimentos e histórias verídicas?
MAÇONS OPERATIVOS E ESPECULATIVOS
A
maçonaria configura-se inicialmente como associação de pedreiros livres,
formadas por construtores oficiais na Europa para os Reis e para a da Igreja
Católica Apostólica Romana. Com o progresso das associações de maçons
operativos conforme Prof Luiz Gonzaga:
Os maçons têm, por hábito, procurar as raízes
históricas profundas da maçonaria. Chegam buscar suas origens na Carta de
Bolonha. É o mais antigo documento comprovadamente maçônico no mundo, conhecido
como “Carta de Bolonha” e data de 1248. Seu nome original é “Statuta et
Ordinamenta Societatis Magistrorum Tapia et Lignamilis”. Foi redigido
originalmente em latim por um escrivão público, sob ordem do Prefeito de Bolonha,
Bonifaci di Cario, no dia 08 de Agosto de 1248. Em seu conteúdo fica claro que
essa Maçonaria Operativa Italiana já era tradicional, antiga, contendo sólida
estrutura e hierarquia, bem anterior à data de registro da Carta. (ROCHA, 2017,
p.. 89)
A
História da Maçonaria conta com tradições Operativas e Especulativas. Segundo o
paradigma de Gould, que é amplamente divulgado no Brasil, a maçonaria operativa
tornou-se especulativa quando passou a aceitar homens que não participavam como
operários da construção, ou seja, pedreiros. Já as tradições originais e
operativas estão alicerçadas em textos que produzem uma ordem nas relações
entre os operários construtores, na forma de estatutos. Regras, histórias e
lendas fazem parte de alguns textos antigos pertencentes a maçonaria operativa
tais como Carta de Bolonha, Manuscrito Regius e Manuscritos de Cooke.
Inicialmente
como associação de pedreiros livres, formadas por construtores oficiais na
Europa para os Reis e para a da Igreja Católica Apostólica Romana traziam
conhecimentos de Geometria e as suas técnicas eram amplamente utilizadas nas
construções, conforme o Manuscrito Regius é datado em cerca do ano de 1390 d.C:
A Maçonaria, nele, é conhecida como
Geometria; o Poema Régio não faz menção ao Templo de Salomão e nem a Hiram
Abif. Destaca dois personagens: Euclides, o geômetra grego alexandrino do
século III a.C. e Noé bíblico; (guarda similaridades com a Constituição de
Anderson). Relata que o grêmio estabeleceu-se em York, em 926, sob o patrocínio
do Príncipe Edwin, irmão, meio irmão ou sobrinho do rei Atelsthan. (GUIMARÃES,
2017, p.38).
Segundo
o Prof. Luiz Gonzaga Rocha, ao final da sua obra Ciência, Artes e Literatura
Maçônica, chama a atenção para a leitura obrigatória dentre as quais consta o
Manuscrito Regius.
Quando a
maçonaria foi caracterizada como especulativa, os instrumentos e símbolos foram
utilizados à época foram incorporados aos seus rituais para reflexão dos
maçons. O objetivo principal dos símbolos é que o maçom medite em cada um ou em
combinações deles para a busca constante do conhecimento e auto aperfeiçoamento
moral. Percebe-se que as doutrinas maçônicas facilitam o caminho para alcançar
a sabedoria.
HERMES TRIMEGISTO
Hermes
Trimegistus ou Hermes, três vezes grande, é conhecido como um filósofo que
viveu na região de Nines por volta de 1500 a 2500 a.C. Devido a complexidade e
aspectos dos ensinamentos restritos a pequenos grupos, sobre a transformação do
ser humano, até hoje tradições alquimistas utilizam o termo hermético como algo
fechado.
Mas entre estes Grandes Mestres do antigo
Egito, existiu um que eles proclamavam como o Mestre dos Mestres. Este homem,
se é que foi verdadeiramente um homem, viveu no Egito na mais remota
antiguidade. Ele foi conhecido sob o nome de Hermes Trismegisto. Foi o pai da
Ciência Oculta, o fundador da Astrologia, o descobridor da Alquimia. Os
detalhes da sua vida se perderam devido ao imenso espaço de tempo, que é de
milhares de anos, e apesar de muitos países antigos disputarem entre si a honra
de ter sido a sua pátria. A data da sua existência no Egito, na sua última
encarnação neste planeta, não é conhecida agora mas foi fixada nos primeiros
tempos das mais remotas dinastias do Egito, muito antes do tempo de Moisés. As
melhores autoridades consideram−no como contemporâneo de Abraão, e algumas
tradições judaicas dizem claramente que Abraão adquiriu uma parte do seu
conhecimento místico do próprio Hermes.
Depois de ter passado muitos anos da sua
partida deste plano de existência (a tradição afirma que viveu trezentos anos)
os egípcios deificaram Hermes e fizeram dele um dos seus deuses sob o nome de
Thoth. Anos depois os povos da Antiga Grécia também o deificaram com o nome de
Hermes, o Deus da Sabedoria. Os egípcios reverenciaram por muitos séculos a sua
memória, denominando−o o mensageiro dos Deuses, e ajuntando−lhe como distintivo
o seu antigo título Trismegisto, que significa o três vezes grande, o grande
entre os grandes. (CAMAYSAR, 1978)
A mais
importante obra deixada por Hermes Trimegistus é o Caibalion, corruptela grega
da palavra cabala, trata de sete princípios universais, ou chamados de leis
herméticas a seguir:
- Lei
do Mentalismo: O Todo é Mente; o Universo é mental;
- Lei
da Correspondência: O que está em cima é como o que está embaixo. O que
está dentro é como o que está fora;
- Lei
da Vibração: Nada está parado, tudo se move, tudo vibra;
- Lei
da Polaridade: Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O
igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as
verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliáveis;
- Lei
do Ritmo: Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e
desce, o ritmo é a compensação;
- Lei
do Gênero: O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e
Feminino, o gênero manifesta-se em todos os planos da criação;
- Lei
de Causa e Efeito: Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa,
existem muitos planos de causalidade mas nada escapa à Lei;
Embora
os princípios herméticos sejam amplamente utilizados como base esotérica, O
Mito de Hermes Trimegistus foi desmascarado quando em 1610, Jaime solicitou um
estudo crítico sobre Annales ecclesiastici, de Baronius, no qual se
assenta o ataque dirigido à lenda a venerável antiguidade da Hermética a Issac
Caubon, erudito na história da Igreja, conforme citado por (WILLIAM, 2017):
O desmascaramento de Hermes Trismegistos foi
feito na obra inacabada, pois faleceu antes de finalizá-la, de Casaubon – De
rebus sacris et ecclesiasticis exercitationes XVI – um comentário eruditíssimo
àquela obra de Baronius: Annales ecclesiastici. Casaubon afirma que os textos
atribuídos a Hermes Trismegistos foram forjados nos tempos dos primeiros
cristãos, a fim de tornar a nova doutrina agradável aos gentios. Seriam de
autoria de cristãos ou neo-platônicos semi-cristãos; falsificações feitas com
bons propósitos, mas detestáveis porque inverídicas historicamente.
Possivelmente houvesse uma pessoa real, concede ele, de grande antiguidade
chamada Hermes Trismegistos, mas que não pode ter sido o escritor das obras a
ele atribuídas. Elas não contêm as doutrinas de um antigo egípcio; são em
parte, escritos de Platão e dos platônicos, e em parte, de livros sagrados
cristãos. O Pimandro contém ecos de Platão, particularmente do Timeu; do Gênese;
e do Evangelho segundo São João. As Potestades, no Corpus hermeticum XIII,
lembram a Epístola de São Paulo aos romanos. Muitos hinos provêm de antigas
liturgias, particularmente as de São João Damasceno, ou dos Salmos. Os tratados
sobre a ‘regeneração’ são insinuados por São Paulo; por Justino, o Mártir; por
Cirilo; por Gregório Nazianzeno e outros.
A citação de Fídias e os jogos pítios,
inexistentes nas priscas eras, e finalmente o estilo, são a pedra de cal final
no desmascaramento de Hermes Trismegistos.
Pelo exposto, pensamos poder, agora, resgatar
e estudar o pensamento dos escritos neo-platônicos, atribuídos a Hermes
Trismegistos (WILLIAM, 2006, p.71).
INVENÇÕES E TRADIÇÕES MAÇÔNICAS
Ao
retornarmos à introdução, chama-se a atenção a reflexão sobre os registros
históricos dos procedimentos operativos, textos e poemas que ressaltam lendas e
mitos sem comprovação documental sobre as características da maçonaria. Deve-se
ter o cuidado e atenção para não utilizar-se de elementos antigos para comprovação da
origem das tradições.
Mais interessante, do nosso ponto de vista, é
a utilização de elementos antigos na elaboração de novas tradições inventadas
para fins bastante originais. Sempre se pode encontrar, no passado de qualquer
sociedade, um amplo repertório destes elementos; e sempre há uma linguagem
elaborada, composta de práticas e comunicações simbólicas. As vezes, as novas
tradições podiam ser prontamente enxertadas nas velhas; outras vezes, podiam
ser inventadas com empréstimos fornecidos pelos depósitos bem supridos do ritual,
simbolismo e princípios morais oficiais - religião e pompa principesca, folclore
e maçonaria (que, por sua vez, é uma tradição inventada mais antiga, de grande
poder simbólico). (HOBSBAWM, 1984,p. 14)
CONCLUSÃO
Nos principais ritos praticados
no Brasil, os rituais das iniciações mantêm características esotéricas
pertinentes a conceitos alquímicos para simbolicamente realizar a transformação
do homem comum em um novo homem com a atenção voltada para a iluminação.
Mesmo com a desconstrução
do mito de Hermes Trimegistus é precipitado desconsiderar os princípios que são
utilizados em vários segmentos da sociedade, em especial na atualidade pela
física quântica.
A maçonaria em sua
doutrina faz com que o maçom busque incessantemente o aperfeiçoamento moral e
em consequência trata da alma humana com os seus símbolos que trazem informações
desde a sua organização em 1717, deixa claro que não é permitida discussões
religiosas, embora incentive os estudos e discussões sobre diversos temas e em
especial a transformação da pedra bruta na pedra lapidada, ou seja, na
lapidação moral do homem. E por que não utilizar as leis ou princípios Herméticos como ferramenta para essa transformação alquímica, da pedra bruta em lapidada? Com isso a maçonaria evidencia a sabedoria quando se
utiliza de conhecimentos antigos compilados em
símbolos e alegorias para transformar o homem em um ser humano melhor.
REFERÊNCIAS
— ROCHA, Luiz Gonzaga– História da Maçonaria: Contextualidade e Ação da
Maçonaria na Política Mundial – UnyLeya, 2017.
— GUIMARÃES, João Francisco – História da Maçonaria: Consolidação,
Expansão e Conflitos Institucionais – Distrito Federal – UnyLeya, 2017.
— HOBSBAWM, Eric . A invenção das tradições. – Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1984.
— CARVALHO, William Almeida de - História da Maçonaria: Das Origens
Corporativas à Maçonaria Moderna – Distrito Federal – UnyLeya, 2017.
— CAMAYSAR, Rosabis - O Caibalion
– São Paulo - Editora Pensamento -1978
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