quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Giuseppe Garibaldi e Ana Maria de Jesus Ribeiro: pontos relevantes da ação da Maçonaria no Brasil, na América Latina e na Itália.

Por Arthur Feitosa Vieira Monteiro, 10/08/2017
http://historiaaulas.blogspot.com.br/2013/01/99-vida-catarinense-com-guerra-dos.html

INTRODUÇÃO

O século XIX iniciou com reflexos das ideias e movimentos iluministas que promoveram a revolução francesa contra o absolutismo monárquico. A partir deste fato, a maçonaria fortaleceu-se devido ao solo fértil das Lojas Maçônicas para discussão libertárias e consequentemente crescente acolhida de homens com os mesmos ideais.

Poucos maçons na história exerceu importante papel tanto nas estratégias e nas operações para libertação de países do julgo colonialista. Giuseppe Garibaldi lutou bravamente na Europa, América do Sul, em especial no Sul do Brasil.

Em arrasto surge a Anna Maria de Jesus Ribeiro, conhecida como Anita Garibaldi por ser a companheira e esposa de Garibaldi. Mulher portadora de vários adjetivos que expressam a valentia nos campos de batalha e a ternura de uma mulher “mãe de família”.

Vejamos o porquê de títulos tais como “Herói de Dois Mundos”, “O Leão da Liberdade” e “Heroína dos Dois Mundos”, tão significativos para a nossa história brasileira e em especial para a Itália.


GIUSEPPE GARIBALDI
Foto de 1866 - fonte: Wikipédia

Nascido em 4 de julho de 1807, na cidade de Nice, Giuseppe Garibaldi era filho de Rosa Raimondi e Domenico Garibaldi, pescador e comerciante costeiro.

Trabalhou com viagens marítimas e atingiu o posto de Capitão. Em uma das viagens, conheceu Giovanni Battista que apresentou a sociedade secreta “Jovem Itália”, fundada por Giuseppe Mazzini, que tinha como objetivo a unidade republicana da Itália.

Atuou ardentemente para liberdade da Itália da submissão estrangeira. Em fevereiro de 1834 foi admitido na Carbonária, sociedade secreta que atuou na Itália, França, Portugal, Espanha e Brasil nos séculos XIX e XX, que mantinha valores patrióticos, liberais e anticlerical.

Segundo Dumas (2006), Garibaldi participou do motim de Gênova, foi preso e condenado, escapou da prisão, foi pra Marselha, e depois para o Brasil onde conheceu Rossetti, seu grande amigo, e depois Zambecari secretário de Bento Gonçalves.

Recebeu o título de Grão-Mestre e foi eleito parlamentar italiano na década. Tmabém o Título de “O grande libertador do velho mundo” e “Herói dos dois mundos” por ter participado de movimentos libertários na Europa e na América do Sul. Garibaldi Faleceu na cidade de Caprera no ano de 1882 devido a problemas de saúde.


ANITA GARIBALDI
Pintor genovense Gaetano Gallino de Montiveideo, 1845.

Anna Maria de Jesus Ribeiro, nasceu em 1821, na cidade de Laguna, filha de Bento Ribeiro da Silva e Maria Antônia de Jesus Antunes. Não se sabe ao certo sobre local e data de nascimento segundo (RIBEIRO, 2011):

Até os dias de hoje, a certidão de Anita Garibaldi não foi encontrada, mas seus biógrafos supõem que ela teria nascido no ano de 1821, conforme aponta Wolfgang L. Rau (1975, p.66). O nome Anna Maria de Jesus pode ser constatado na certidão de seu primeiro casamento (Rau, 1975, p.72), realizado no ano de 1835 na Igreja Santo Antônio dos Anjos, em Laguna, e o sobrenome Ribeiro vem de seu pai Bento Ribeiro da Silva.

Casou-se com Manuel Duarte, sapateiro, no ano de 1835. Manuel morreu em combate, após se alistar na Guarda Nacional do Império. 02Anna conheceu Garibaldi em 1853, conforme relato do próprio Garibaldi:

Era arraigado a esses pensamentos que, da minha cabina no Itaparica, eu dirigia o meu olhar à ribeira. O morro da Barra encontrava-se próximo e, do meu bordo, eu descobria as belas jovens ocupadas nos seus diversos afazeres domésticos. Uma delas atraía-me mais especialmente que as outras... Dada a ordem de desembarque, tomei o caminho da casa sobre a qual havia já algum tempo fixara-se toda a minha atenção. O meu coração disparava, mas também encerrava, malgrado a sua comoção, uma dessas resoluções que jamais esmorecem. Um homem (eu já o avistara) convidou-me a entrar. Tentasse fazê-lo bruscamente e ele me teria impedido. “Virgem criatura, tu serás minhas!”, foi o que disse ao ter a jovem diante de mim. E com tais palavras eu forjava uma aliança que somente a morte haveria de romper. Eu encontrara um tesouro interdito, mas um tesouro de um tal valor!... (DUMAS, 1998)

O relacionamento de Anna com Garibaldi inicia em Laguna. Garibaldi com dificuldades de pronunciar o diminutivo de Anna em português passa a chama-la de Anita passou a ser esposa de Garibaldi, companheira, combatente pela liberdade e mãe. Combateu Na Revolução Farroupilha, participou da Proclamação da República Catarinense. Casou com Garibaldi em Montevidéu em 1842. Fugiram para Itália no ano de 1847. Lutou pela Unificação da Itália, grávida, adoeceu e morreu em 1849 com 28 anos.

Anita Garibaldi, a “Heroína dos dois mundos” era carinhosamente chamada por Garibaldi de Anita. Hoje está enterrada em Gianículo, uma colina na parte Ocidental de Roma. Respeitada e adorada pelo povo italiano e brasileiro.


PASSAGEM PELO BRASIL
A partir das ideias iluministas a maçonaria expandiu e acolheu vários adeptos da liberdade e ideias republicanas. No Brasil não foi diferente, vários maçons influenciados pelo ideal ilustrado retornaram ao Brasil e promoveram o agrupamento de vários maçons, em lojas, local propício para as discussões libertárias, conforme (SIQUEIRA, 2014) :

Foi a partir de meados do século XVIII e inícios do XIX que houve uma maior disseminação da maçonaria, com a criação de lojas maçônicas por todo o mundo. Dentre as diversas regiões, a instituição maçônica chegou ao Brasil no início do século XIX com a criação em 1801 da primeira loja maçônica: a loja Reunião, localizada no Rio de Janeiro, vinculada ao Grande Oriente da França. Célia Marinho, entretanto, afirma que havia indícios da existência de maçons anterior a esse período, envolvidos nos episódios da Inconfidência Mineira (1789) e Conjuração Baiana (1798).

Percebe-se na História do Brasil Imperial uma simbiose com a maçonaria, pois os principais atores e envolvidos eram maçons, com maior destaque José Bonifácio e Gonçalves Ledo com suas duras posições em defesa da monarquia e da república.

O Brasil no século XIX passou por vários movimentos contra o colonialismo. Destaca-se a Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha como um dos mais importantes movimentos em oposição ao colonialismo.

A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, acabou influenciando movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna, com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: Bento Gonçalves, General Neto, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, Davi Canabarro, Vicente Ferrer de Almeida, José Mariano de Mattos, além de receber inspiração ideológica de italianos carbonários refugiados, como o cientista Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além de Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. (BEHLING, 2016)

Bento Gonçalves, quando preso no Rio de Janeiro conheceu Garibaldi. Passaram a lutar ombreados, passando a ser um dos ícones da Revolução Farroupilha. Lutou com a sua esposa Anita na batalha em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Segundo (Castelani e Carvalho, 2009) Bento Gonçalves era maçom, nome histórico de Sucre, pertenceu à Loja “Filantropia e Liberdade” fundada em 1831 e Filiada ao Grande Oriente do Brasil.

No ano de 1841, Bento Gonçalves dispensou Garibaldi. Mudou-se com a sua esposa Anita e seu filho Menotti para o Uruguai.


PASSAGEM PELO URUGUAI
Garibaldi e sua família estabeleceram em Montevidéu. Garibaldi e Anita casaram-se na igreja e tiveram outros filhos. Trabalhou como professor até ser convidado para trabalhar na Marinha. Envolveu-se em várias batalhas no mar e em terra.

Recebeu o comando de uma pequena frota uruguaia para combater o ditador argentino Manuel de Rosas. Tornou-se comandante da Legião Italiana que foi formada em Montevidéu e curiosamente escolheu a cor vermelha para a farda da legião.

Seus feitos no Uruguai ficaram amplamente conhecidos na Itália. No início do ano de 1848, Garibaldi e sua família partem para a cidade de Nice onde residia a sua família.


DE VOLTA PARA A ITÁLIA
Logo se juntou a causa da Unificação Italiana e participou do combate contra o exército da Áustria. Devido a experiência em combate unido a fama conquistada no Uruguai com a Legião Italiana, aproveitou para formar a Legião Italiana em solo pátrio.

Realizou muitos combates até que em sua fuga de Roma para Suíça, perdeu a sua esposa Anita que faleceu em Mandriole em agosto de 1849.

Retornou para Itália em 1854 e passados alguns anos retornou para o combate e derrotou os Austríacos. Continuou a combater por toda a Itália e França até o ano de 1871. Na França foi eleito deputado para a Nova Assembleia Nacional Francesa.

Atualmente Garibaldi é reconhecido em diversas cidades do mundo com estátuas em sua homenagem, como símbolo da libertação do seu país do domínio estrangeiro.


CONCLUSÃO
A maçonaria sempre foi muito influente nos processos de independência Política na história no Brasil, América Latina, América do Norte e Europa. A maioria dos movimentos políticos requer um símbolo, um líder, um mártir. Na história encontramos homens que lutaram por um pensamento político e se tornaram um símbolo de luta libertária. Raríssimas mulheres puderam ou tiveram a oportunidade de trabalhar e raramente entrar em combate por uma causa.

Constata-se que o espírito de luta de Giuseppe Garibaldi e a liderança contagiante foram complementados pela Anita que tornara sua esposa. A história registra os vários caminhos percorridos pelos diversos países, sempre envolvidos em marchas e lutas. Os campos de batalha eram uma extensão do seu lar.

Giuseppe e Anita, ambos chamados Heróis dos Dois Mundos, poderão ser mais explorados como exemplo, não de batalhas, mas de persistência e amor pelas causas em favor da liberdade dos seres humanos subjugados minorias “absolutistas”, como se percebe nas lideranças dos governos atuais.

Por que não falarmos que Garibaldi, Herói dos Dois Mundos que poderá ser usado como um exemplo para os próprios maçons, ao trabalharem para a liberdade política, intelectual e fraternal, dentro e fora das potências maçônicas. Especialmente, nestes dias atuais,  entre os “Mundos Maçônicos”.

REFERÊNCIAS
— BEHLING, Lenar Cardoso – Revolução Farroupilha – Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI  - 2016.
— Biografia de Giuseppe Garibaldi – Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Garibaldi>. Acesso em 26 de jul. de 2017.
— CASTELLANI, José e CARVALHO, William Almeida de, - História do Grande Oriente do Brasil – São Paulo, Editora Madras, 2009.
— DUMAS, Alexandre – Memórias de Garibaldi – Porto Alegre: Editora BL&pm Pocket, 2006.
— ELÍBIO JÚNIOR, Antônio Manoel – As representações sobre Anita Garibaldi como personagem e heroína. Dissertação (Mestrado em história cultural) – Faculdade de História. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2000. Disponível em https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/79307/153071.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acessado em  12/07/2017.
— RIBEIRO, Fernanda Aparecida – Anita Garibaldi Coberta por Histórias – São Paulo - Editora UNESP, 2011.
— ROCHA, Luiz Gonzaga– História da Maçonaria: Contextualidade e Ação da Maçonaria na Política Mundial – UnyLeya, 2017.
— ROHDE, Marina Luísa e Souza, Wagner de – Visões multifacetadas do guerrilheiro Giuseppe Garibaldi – Anais da 17ª Jornada de estudos linguísticos e literários – Marechal Cândido Rondon: Unioeste, 2014.


— SIQUEIRA, Luan Mendes de Medeiros – Um Breve Panorama da Historiografia Maçônica: De Sua Criação à Atuação na Proclamação da República – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Centro de Artes, Humanidades e Letras – Revista Eletrônica Discente História.com Vol. 2, n.3, 2014.

ANEXO

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