sexta-feira, 31 de março de 2017

Primazia das Lojas Maçônicas e dos primeiros maçons no Brasil

Por Arthur Feitosa Vieira Monteiro, 31/03/2017
Marco Areópago de Itambé - Itambé-PE - foto: Ernani Neves
No Brasil, podemos encontrar e até listar as primeiras Lojas Maçônicas que deram origem ao Grande Oriente do Brasil em 17 de junho de 1822, porém não é comum tratarmos das inúmeras Lojas que antecederam este evento. Confunde-se as primeiras Lojas do Brasil com as Lojas Primazes do Grande Oriente do Brasil.

Em consequência deste aspecto, também há uma confusão sobre os primeiros maçons brasileiros com os que fundaram o Grande Oriente do Brasil.

A questão é se existiram Lojas Maçônicas antes do ano de 1822? Existiam maçons brasileiros antes deste período? Qual a origem maçônica dos maçons brasileiros?

MAÇONS BRASILEIROS ANTES DE 1822

No século XVIII as ideias iluministas estavam efervescentes na frança espalhava-se pela Europa. O movimento ilustrado foi propagado pelas manifestações culturais da elite intelectual europeia, que ressaltava a razão para a reorganização social.

Neste período, brasileiros migravam temporariamente para Europa com objetivo da formação acadêmica. Em contato com os ideais iluministas, que os conduziram a refletir sobre os aspectos políticos brasileiro. Nesta ocasião vários brasileiros foram convidados a iniciarem na maçonaria que também propagava os ideais iluministas.

De acordo com (DA SILVA, 2003) os irmãos Manuel da Arruda Câmara, médico e cientista e Francisco de Arruda Câmara, foram iniciados em Montpelier, na França, e lá se abeberaram do conhecimento intelectual e das luzes da liberdade.

Ao retornar para o Brasil encontraram os irmãos: Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, Luis Francisco Cavalcanti de Albuquerque e os padres Antonio Felix Velho Cardoso, José Pereira Tinoco, Antônio de Albuquerque Montenegro e João Ribeiro Pessoa fundaram a Areópago de Itambé que com características de Loja Maçônica não é considerada uma Loja Maçônica Formal, conforme (ISMAIL, 2011):
Apesar de muitos escritores maçons assim desejarem, a “Areópago de Itambé” não era uma Loja Maçônica. No século XVIII existiam centenas de instituições criadas aos moldes da Maçonaria, usando símbolos iguais e similares, e até dividindo os graus em Aprendiz, Companheiro e Mestre como na Maçonaria. Era uma verdadeira “coqueluche” de Ordens, Clubes e Associações, e era muito comum os homens livres serem membros de duas ou mais dessas diferentes instituições, até mesmo no Brasil. Um exemplo disso é o “Apostolado”, da qual José Bonifácio, Gonçalves Ledo e D. Pedro I também faziam parte. Ser inspirada na Maçonaria não é o mesmo do que ser Loja Maçônica.

Segundo ARÃO (1926 apud ISMAIL 2017) “os maçons Domingos Vidal Barbosa, natural de Minas Gerais e os fluminenses José Mariano Leal e José Joaquim Maia”, estudantes de medicina de Montpelier, seguiram o compromisso de trabalhar na regeneração política do Brasil, firmado em numa conferência na Universidade de Coimbra. Outro maçom que merece destaque é o Antônio Carlos de Andrada, líder da revolução Pernambucana, em 1817. Apontaremos maçons brasileiros que formaram as tres Lojas “Comércio e Artes”, “Esperança de Niterói” e “União e Tranquilidade” que deram origem ao Grande Oriente do Brasil em 1822, de acordo com registro no Livro História do Grande Oriente do Brasil:(Castelani e Carvalho 2009):

Albino dos Santos Pereira, Antonio Correa Picanço, Antonio dos Santos Cruz, Antonio José da Lança, Antonio José de Sousa, Belarmino Ricardo de Siqueira, cônego Belchior Pinheiro de Oliveira, cônego Januário da Cunha Barbosa, Cypriano Lerico, Domingos Alves Branco Muniz Barreto, Domingos Alves Pinto, Domingos Freitas, Domingos Ribeiro Guimarães Peixoto, Eusébio José da Cunha, Fernando José de Mello, Francisco Antonio Leite, Francisco Antonio Rosa, Francisco Bibiano de Castro, Francisco da Silva Leite, Francisco das ChagasRibeiro, Francisco de Paula Vasconcellos, Francisco José dos Reis Alpoim, Francisco Júlio Xavier, Francisco Mendes Ribeiro, Francisco Xavier Ferreira, frei Carlos das Mercês, frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, Guilherme Cipriano Ribeiro, Guilherme Thompson, Hércules Octaviano Muzi, Ignácio Joaquim de Albuquerque, Ignácio José de Araújo,Inocêncio de Accioly Vasconcellos, João Antonio Maduro, João Antonio Pereira, João Bernardo de Oliveira Barcellos, João da Costa e Silva, João da Silva Feijó, João da Silva Lomba, João Fernandes Thomaz, João Francisco Nunes, João José Dias Camargo, João José Vahia, João Luiz Ferreira Drummond, João Mendes Viana, João Militar Henriques, João Pedro de Araújo Saldanha, João Ribeiro de Castro Braga, Joaquim de Gouveia, Joaquim Ferreira Franco, Joaquim Gonçalves Ledo, Joaquim José Ribeiro de Barros, Joaquim Nunes de Carvalho, Joaquim Valério Tavares, José Bonifácio de Andrada e Silva, José Cardoso Netto, José Clemente Pereira, José da Cruz Ferreira, José da Cunha Santos, José de Almeida Saldanha, José de Souza Teixeira, José Domingos de Athayde Moncorvo, José Ewbanch, José Ignácio Albernaz, José Joaquim de Gouveia, José Joaquim dos Santos Lobo, José Joaquim dos Santos, José Manoel Pinto Lobato, José Mariada Silva Bittencourt, José Rodrigues Gonçalves Valle, Luiz Cyriaco, Luiz Manoel de Azevedo, Luiz Pereira da Nóbrega de Sousa Cominho, Luiz Pereira da Silva, Manoel Carneiro de Campos, Manoel da Fonseca Lima e Silva, Manoel dos Santos Portugal, Manoel Gaspar Moreira, Manoel Ignácio Pires Camargo, Manoel Joaquim Correa da Silva, Manoel Joaquim de Menezes, Manoel Joaquim de Oliveira Alves, Manoel José da Silva Sousa, Manoel José de Oliveira, Manoel Pinto Ribeiro Pereira de Sampaio, Miguel de Macedo, padre João José Rodrigues de Carvalho, padre Manoel Telles Ferreira Pitta, Pedro José da Costa Barros, Pedro Ursini Grimaldi, Ricardo Alves Villela, Samuel Wook, Thomaz José Tinoco de Almeida, Thomaz Soares de Araújo.

Dentre estes maçons, chamamos a atenção para os seguintes nomes que compunham o corpo clerical da Igreja Católica: Cônego Januário da Cunha Barbosa, Frei Carlos das Mercês, Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, Padre João José Rodrigues de Carvalho e Padre Manoel Telles Ferreira Pitta.

Desde o século XVIII encontram-se registros de vários maçons dispersos iniciados no exterior, porém com as perseguições da época, certamente não fundaram Lojas ou não mantiveram registros dos maçons e funcionamento.

LOJAS MAÇÔNICAS ANTES DE 1822

Percebe-se a quantidade de maçons que existiam no Brasil, e sem dúvida alguma fundaram várias lojas antes de 1822. A maçonaria brasileira, no aspecto de Loja, começou a tomar forma com a fundação do Areópago de Itambé no ano de 1796, tendo como precursores o maçom Manuel de Arruda Câmara, que utilizava o nome de Frei Manuel do Coração de Jesus e iniciado em Montpelier na França e desenvolveu atividades na Europa acompanhado de José Bonifácio de Andrada e Silva. O funcionamento da Areópago funcionava sob o aspecto do sigilo, semelhante a oficina no qual foi iniciado e contava no seu quadro com maçons e não maçons. Por isso ser confundida com uma Loja Maçônica.

O registro da primeira Loja Maçônica, foi em 1797 e denominava-se Loja Cavaleiros da Luz, de acordo com (CARVALHO):

Com os dados hoje disponíveis, a primeira referência a uma Loja maçônica brasileira que se tem notícia teria sido em águas territoriais da Bahia, em 1797, em uma fragata francesa La Preneuse, denominada Cavaleiros da Luz, sendo pouco tempo depois transferida para a Barra, um bairro de Salvador. Contudo, a primeira Loja regular do Brasil foi a Reunião, fundada em 1801, no Rio de Janeiro, filiada ao Oriente da Ilha de França (Ille de France), antigo nome da Ilha Maurício, à época possessão francesa e hoje britânica.

Sob o aspecto de Loja regular temos o seguinte registro: “A primeira Loja regular do Brasil foi a Loja Reunião, fundada em 1801, no Rio de Janeiro, filiada ao Oriente da Ilha de França (Ille de France), antigo nome da Ilha Maurício, à época possessão francesa e hoje britânica.” (CARVALHO).

Foram criadas as Lojas Constância e Filantropia, que passaram a funcionar no Rio de Janeiro. Passaram, acompanhadas da Loja Reunião, a acolher maçons regulares e irregulares, iniciando e levando-os ao grau de Mestre.

Apesar de controvérsias a exigir maiores pesquisas nesta área, essas foram as primeiras Lojas oficiais e consideradas regulares, pois já existiam, anteriormente, agrupamentos secretos, em moldes mais ou menos maçônicos, funcionando mais como clubes, ou academias, mas que não eram Lojas na acepção da palavra. (CARVALHO).

Várias Lojas Maçônicas foram fundadas e adormecidas no Brasil antes de 1822, muitas delas com registros e outras não. Percebe-se a instabilidade política e liberdade cerceada para promoção da fraternidade maçônica naquela época. De acordo com a lista das principais Lojas fundadas no Brasil (CASTELLANI e CARVALHO 2009):

Resumindo: os primeiros tempos da Maçonaria brasileira, até a fundação do Grande Oriente, seguem, aproximadamente - já que a época é nebulosa, do ponto de vista documental-, a seguinte cronologia dos principais fatos:

1796 - Fundação, em Pemambuco, do "Areópago de ltambé", que não era uma verdadeira Loja, pois, embora criado sob inspiração maçônicas não era totalmente composto por maçons;
1797 - Fundação da Loja "Cavaleiros da Luz", na povoação da Barra, Bahia;
1800 - Criação, em Niterói, da Loja "União";
1801 - Instalação da Loja "Reunião", sucessora da "União";
1802 - Criação, na Bahia, da Loja "Virtude e Razão";
1804 - Fundação das Lojas "Constância" e "Filantropia";
1806 - Fechamento, pela ação do conde dos Arcos, das Lojas "Constância" e "Filantropia";
1807 - Criação da Loja "Virtude e Razão Restaurada", sucessora da "Virtude e Razão";
1809 - Fundação, em Pemambuco, da Loja "Regeneração";
1812 - Fundação da Loja "Distintiva", em S. Gonçalo da Praia Grande (Niterói);
1813 - Instalação, na Bahia, da Loja "União";
1813 - Fundação de uma Obediência efêmera e sem suporte legal - que alguns consideram como o primeiro Grande Oriente Brasileiro - constituída por três Lojas da Bahia e uma do Rio de Janeiro;
1815 - Fundação, no Rio de Janeiro, da Loja "Comércio e Artes";
1818 - Expedição do Alvará de 30 de março, proibindo o funcionamento das sociedades secretas, o que provocou a suspensão - pelo menos aparentemente - dos trabalhos maçônicos;
1821 - Reinstalação da Loja "Comércio e Artes", no Rio de Janeiro;
1822 - 17 de junho: fundação do GRANDE ORIENTE.

CONCLUSÃO
Os primeiros maçons brasileiros foram: Manuel da Arruda Câmara que utilizava o nome de Frei Manuel do Coração de Jesus, médico e cientista, Francisco de Arruda Câmara, Domingos Vidal Barbosa, natural de Minas Gerais e os fluminenses José Mariano Leal e José Joaquim Maia, José Bonifácio de Andrada e Silva que foram iniciados em Montpelier, na França. Maçons que merecem destaque Antônio Carlos de Andrada e Joaquim Gonçalves Ledo.

Fica evidenciado que o Areópago de Itambé, fundada em 1796 no estado de Pernambuco, foi uma sociedade com funcionamento nos moldes de uma oficina maçônica e podemos dizer que uma incubadora dos ideais de criação de Lojas Maçônicas Regulares.

O primeiro registro de uma Loja Maçônica no Brasil foi a Loja Cavaleiros da Luz, no ano de 1797, em uma fragata francesa La Preneuse e em seguida transferida para a Barra-BA.

A primeira Loja Maçônica Regular no Brasil foi a Loja Reunião, fundada em 1801 no Rio de Janeiro, filiada ao Oriente da Ilha de França.

Antes de 1822 existiam vários maçons brasileiros, iniciados no exterior ou no Brasil, que antecederam a fundação do Grande Oriente do Brasil. Os maçons brasileiros eram iniciados sob os ideais iluministas e passaram a exercer influência nos aspectos políticos daquela época. Ao se reunirem em Lojas, tornaram-se uma ameaça a situação política da época e ao mesmo tempo uma esperança de trabalhar em um novo destino para o País.


REFERENCIAS
—  Fotografia: : http://acidadeeahistoria.blogspot.com.br/2012/10/alem-dos-canaviais-de-itambe.html
— ALENCAR, Renato de - Enciclopédia histórica do mundo maçônico – Tomo II – Rio de Janeiro – Editora Maçônica, 1980.
— CARVALHO, William Almeida de - Pequena (?!) História da Maçonaria no Brasil – disponível em <https://bibliot3ca.wordpress.com/pequena-historia-da-maconaria-no-brasil-william-almeida-de-carvalho/ > acessedo em 28/03/2017
— CASTELLANI, José e CARVALHO, William Almeida de, - História do Grande Oriente do Brasil – São Paulo, Editora Madras, 2009.
— DA SILVA, Francisco Bonato Pereira – Pioneira no Brasil – Recife – Revista Engenho e Arte nr 12 – 2003.
— ISMAIL, Kennyo – História da Maçonaria no Brasil: Origens, Consolidação e Evolução ao Momento Atual – Brasília – Ed. Unyleya - 2017
— ISMAIL, Kennyo – A verdadeira história dos primórdios da maçonaria no Brasil – 28/11/2011 – disponível em <http://www.noesquadro.com.br/2011/11/verdadeira-historia-dos-primordios-da.html> Acessado em 28/03/2017.
— ROCHA, Luiz Gonzaga - Ciência, Artes e Literatura Maçônica – Brasília, Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em História da Maçonaria – UnyLeya, 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário