quarta-feira, 1 de março de 2017

Seria a Maçonaria filha predileta do Iluminismo ou seria o Iluminismo broto predileto da Maçonaria? Ou nem uma coisa nem outra?

Por Arthur Feitosa Vieira Monteiro, 01/03/2017



O tema nos convida a uma séria reflexão entre a maçonaria e iluminismo, particularmente no Brasil, encontramos na maçonaria uma simbiose com o Iluminismo. A Maçonaria desperta a necessidade de aprofundamento nos estudos históricos de sua origem, por não existir um fundador nem data de fundação nem documentação histórica. O Iluminismo possui robusta documentação histórica que seu início data entre 1650-1700 e seu término entre 1790-1800. Temos registros dos filósofos contemporâneos como Spinosa, John Locke, Pierre Bayle e Isaac Newton.

MAÇONARIA

Inicialmente como associação de pedreiros livres, formadas por construtores oficiais na Europa para os Reis e para a da Igreja Católica Apostólica Romana. Com o progresso das associações de maçons operativos, houve uma aceitação de associados que não exerciam a profissão de pedreiros, Segundo o Prof. Kennyo Ismail:


A Carta de Bolonha é anterior em 142 anos ao “Poema Regius” (1390), 182 anos ao “Manuscrito de Cooke” (1430), 219 anos ao “Manuscrito de Estrasburgo” reconhecido no Congresso de Ratisbona de 1459 e autorizado pelo Imperador Maximiliano em 1488, e 59 anos ao “Preambolo Veneziano dei Taiapiera” (1307). Todos esses documentos maçônicos antigos não somente comprovam a existência da Maçonaria Operativa e sua evolução histórica, mas principalmente sua evolução social, incluindo a atenção especial de reis e o interesse crescente de intelectuais e nobres.
A Carta possui anexos. Entre eles, conserva-se uma “lista de matrícula” registrada em 1272, que contém 371 nomes de Mestres Maçons (Maestri Muratori), dos quais 2 eram escrivães públicos, outros 2 eram freis e 6 eram nobres. Essa é a prova histórica mais clara de que, em pleno século XIII, a transformação da Maçonaria de Operativa em Especulativa já estava iniciada. (ISMAIL, 2011)

Conforme destacado, a maçonaria dos antigos e livres passava a contar os aceitos, abrindo-se a influências externas ao mundo operativo. Os novos conceitos e ideias passavam a influenciar os assuntos da maçonaria e reforçava a ideia da construção moral.

Deu-se no início do século XVIII a estruturação da maçonaria moderna na Inglaterra, com grande participação de Jean Theophile Desaguliers, Doutor pela Universidade de Oxford e Grão-Mestre da Grande Loja da Inglaterra consolidou a maçonaria inglesa com mudanças que elevaram o nível intelectual e transformou-a na instituição que influenciaria a democracia em vários países.

A maçonaria passou a ser um abrigo aos nobres e pensadores e proporcionava discussões intelectuais e Luz aos maçons da época, induzindo-os a serem livres pensadores.

ILUMINISMO


A semente do Iluminismo foi plantada pelo discurso do orador Ramsay1 numa iniciação na Grande Loja da França no dia 21 de março de 1737 que expressava a ideia de uma República Democrática Universal compatível com o sentimento patriótico e a elaboração de uma Enciclopédia universal de todo o que existe de bom, grande e luminoso nas artes e na ciência.

O discurso de Ramsay repercutiu nos mais elevados meios científicos, artísticos e literários da França, gerando-se então a ideia da Concepção e criação da colossal obra Encyclopédie. (ALENCAR, 1980, p.300). Obra editada no século XVIII por Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot tratava os três ramos do conhecimento: “Memória/História”, “Razão/Filosofia” e “imaginação/Poesia”. A obra abrigava grandes pensadores iluministas como Voltaire, Rousseau e Montesquieu. Além de Le Breton, Daubenton, Jacourt, Holbach, Anne Turgot.

O principal objetivo da grande obra, com 35 volumes, era mudar a maneira como as pessoas pensavam, conforme Diderot. A obra desafiava dogmas da Igreja Católica Romana e compêndios que influenciaram a Revolução Industrial na Inglaterra.

A construção do conhecimento histórico-filosófico-poético do movimento iluminista na França era a busca da felicidade humana:

O principal objetivo dos filósofos (e pensadores) iluministas era a busca da felicidade humana. Rejeitavam a injustiça, a intolerância religiosa e os privilégios da nobreza. E, pela promessa de livrarem a humanidade das trevas e trazer a luz por meio do conhecimento, foram chamados de iluministas. Vale fazer, aqui, os princípios e postulados maçônicos identificados com os pensamentos e objetivos dos “filósofos” do Iluminismo. (ROCHA, 2016)

Imanuel Kant em 1784 na resposta do que seria o Iluminismo traz um dos maiores conceitos de que o Iluminismo seria a saída do homem da sua imaturidade.

Uma das principais finalidade da humanidade é o progresso da sociedade para o bem-estar e felicidade de todos. A maçonaria proporciona a Luz aos seus iniciados. Objetiva formar livres pensadores e que tenham coragem de buscar o progresso e causar mudanças na sociedade para o bem-estar e felicidade de todos. O movimento do Iluminismo rejeitava a injustiça, intolerância religiosa e os privilégios da nobreza. Ou seja, a busca do conhecimento com o objetivo do bem-estar e da felicidade humana.

A história da maçonaria desde a operativa até a especulativa tem como um dos pilares principais o culto a moral e construção do caráter. A doutrina maçônica influenciou ou apoiou grandes maçons a lançarem ideias que alicerçaram o movimento iluminista. Existe a possibilidade de maçons envolvidos com os ideais iluministas que espalharam-se por vários países tais como Alemanha, Escócia, Estados Unidos, França, Inglaterra e em Portugal.

A doutrina maçônica promove uma verdadeira simbiose com o movimento ilustrado e propõe-se que a maçonaria é a Cellula Mater do Iluminismo, fato que ainda não podemos confirmar.

NOTAS
1 O Cavaleiro André Miguel Ramsay, escocês de Ayr era filósofo, político, homem de vasta cultura, do partido stuartista, exilado em Paris por ser partidário de Jacob III ao trono de seu pai Jacob II, tinha sido investido como Cavalheiro da Ordem de São Lázaro pelo Regente Filipe de Orleans.

REFERENCIAS
ALENCAR, Renato de - Enciclopédia histórica do mundo maçônico – Tomo II – Rio de Janeiro – Editora Maçônica, 1980.
FERREIRA, João Vicente Hadich – Filosofia: serviço social II – São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
ISMAIL, Kennyo – O Documento mais antigo da maçonaria: A carta dfe Bolonha – Brasília – 2011 - Disponível em: <http://www.noesquadro.com.br/2011/01/o-documento-mais-antigo-da-maconaria.html> consultado em 15/02/2017.
KANT, Mmanuel – Respondendo a pergunta: O que é Iluminismo - (Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung?) - Berlinische Monatsschrift, 1784 – Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Beantwortung_der_Frage:_Was_ist_Aufkl%C3%A4rung%3F> consultado em 17/02/2017.
MANSUR NETO, Elias – O que você precisa saber sobre a maçonaria – 2 ed. - São Paulo: Universo dos Livros, 2009.
REZENDE, Antonio – Curso de Filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação – 13 ed – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
ROCHA, Luiz Gonzaga - Ciência, Artes e Literatura Maçônica – Brasília, Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em História da Maçonaria – UnyLeya, 2016.

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