quarta-feira, 1 de março de 2017

Pseudos maçons brasileiros: Frei Caneca era maçom?

Por Arthur Feitosa Vieira Monteiro, 31/01/2017

A execução de Frei Caneca por Murilo La Greca

Em Pernambuco, em especial na sua capital Recife, é comumente afirmado que o Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo (1779-1825), conhecido como Frei Caneca é maçom. Ao pesquisarmos o vínculo existente entre o Frei Caneca e Maçonaria, encontramos muitos sites maçônicos, tanto nos de lojas quanto individuais (blogs) a afirmação e tratamento inconteste que o Frei Caneca era maçom.

O Frei Caneca, da ordem carmelita, exerceu o posto de capitão de guerrilhas participou ativamente na Revolução Pernambucana em 1817, ajudou a organizar o primeiro governo. Ativista apoiou vários movimentos políticos. Em 1824 foi detido nas funções de Secretário das tropas sublevadas e Orientador espirituais, foi preso pelas tropas imperiais e executado por fuzilamento em 1825.

Há o registro, embora sem acesso ao livro citado Mártires Pernambucanos do padre Dias Martins, pelo Grão Mestre Antônio do Carmo Ferreira no discurso proferido para as homenagens de Frei Caneca:

Nessa Loja Academia de Suassuna, o Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, já ordenado em 1801, foi iniciado maçom, conforme registro do padre Dias Martins, em seu livro Mártires Pernambucanos, publicado inicialmente em 1853. Nessa obra, o autor acrescenta terem ingressado na Ordem, na mesma Loja Maçônica, os senhores Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio, e o padre Miguelinho.
Em 1823, Frei Caneca entrega ao prelo suas Cartas de “Pítia a Damão”, sendo que na X Carta demonstra profundo conhecimento sobre a Maçonaria, informando já haver lido 14 livros a seu respeito, faz-lhe muitos elogios, pede respeito à mesma e revela o progresso já então alcançado pela Ordem maçônica em Pernambuco. (FERREIRA, 2013)

Em contrinuação em seu discurso, o Grão Mestre afirma que o renomado Jornalista Mário Melo, com assento na cadeira Frei Caneca na academia Pernambucana de Letras confirmou a iniciação maçônica de Frei Caneca:

Anos depois, essa notícia da iniciação maçônica do Frei Caneca é confirmada pelo jornalista Mário Melo, Secretário do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, em seu livro “Maçonaria no Brasil, Prioridade de Pernambuco”, publicado em 1909. (FERREIRA, 2013)

Nas demais pesquisas realizadas, não foram encontradas evidências que o Frei Caneca sido iniciado ou tenha pertencido a alguma Loja Maçônica. Nas pesquisas acadêmicas, foi evidenciado o conhecimento de termos e conceitos da maçonaria pelo Frei Caneca, tais como Supremo Arquiteto do Universo, compasso, de acordo com a Carta V da Carta de Pídia a Damão de Frei Caneca:

[ ... ] Pela geometria conhecemos evidentemente a existência do Supremo arquiteto do universo; pela geometria admiramos a sua infinita sabedoria no sistema de criação, a sua Providência no andamento regular da natureza; pela geometria domamos a fúria do oceano, dirigimos a força dos euros, penetramos os abismos, e subimos os astros; ajustamos os impulsos do nosso coração com os ditames da reta razão; proporcionamos os trabalhos às nossas forças, os remédios às moléstias, às penas aos delitos, os prêmios às virtudes; pela geometria equilibramos os movimentos das grandes massas das nações, regularizamos o valor dos povos e seu entusiasmo.
Todas as coisas que não entram a régua e o compasso da geometria são desregradas e descompassadas, são monstruosas." [p. 222]. (Os escritos políticos de Frei Caneca - PUC – CD 0710591/CA - p.28,  apud Carta de Pídia a Damão de Frei Caneca).

Em outro trecho da Carta, percebe-se a defesa dos ideais maçônicos e liberdade política, com a valorização da defesa da independência e liberdade política, que a maçonaria cultua ao indivíduo:

A franco-maçonaria está mais adiantada [ ... ] porque está aqui [em Pernambuco] há mais tempo estabelecida e mais acreditada pela sua antiguidade no universo, universalidade na Europa, grandes personagens que nela têm figurado, pelos bens que há feito à humanidade, mormente no tempo da Revolução Francesa, e de presente da nossa independência e leberdade política. [p.287].(Os escritos políticos de Frei Caneca - PUC – CD 0710591/CA - p.29, apud Carta de Pídia a Damão de Frei Caneca ).

Constata-se a afinidade do Frei Caneca com os ideais maçônicos que convergem para esclarecimento político e social na época revolucionária com os seus interlocutores revolucionários:

O pertencimento a essa “sociabilidade maçônica” faz-se de maneira direta entre os interlocutores de Frei Caneca, entre os quais: Cipriano José Barata de Almeida, da Bahia; Joaquim Gonçalves Ledo, jornalista do Rio de Janeiro; Domingos José Martins e Antônio Gonçalves da Cruz, importantes lideranças de 1817. Podemos afirmar a participação de Frei Caneca junto a sociabilidade e ideais difundidos na maçonaria, ainda que o mesmo não tenha se filiado diretamente a maçonaria. (Os escritos políticos de Frei Caneca - PUC – CD 0710591/CA, p. 31)

Percebe-se que acessando-se os textos isolados do Frei Caneca, alguns maçons podem atribuí-lo o status de maçom sem mesmo buscar evidências em registros históricos sobre a iniciação ou pertencimento a alguma Loja maçônica conforme citado na obra “O Liberalismo Radical de Frei Caneca”:

Ora, não há provas de que Frei Caneca tenha sido filiado à maçonaria. O desmentido parte dele próprio. Em “Sobre as Sociedades Secretas de Pernambuco” esclarece que não tem sobre essa entidade “outras idéias, que as subministradas por alguns papéis, que sempre devem ocultar muitas coisas pela perseguição...”1. Não se confessa adepto de nenhum dos agrupamentos maçônicos. p.37 (MONTENEGRO, 1978)

Um fato que pode proporcionar aos maçons esse tipo de comportamento, é que nos tempos atuais, não existem evidências ou destaques de maçons brasileiros que possam ser tomados como herói, ou, como referência para comunidade maçônica brasileira. Haja vista o Juiz Sérgio Moro ao receber uma condecoração de uma potência maçônica, foi a ele imputado e amplamente divulgado nas redes sociais, a condição de maçom.
Previne-se estes tipos de situações, que associam a condição de maçom a homens de destaque na sociedade. A simples solução seria que cada maçom tenha responsabilidade da realização de pesquisas e divulgá-las após reunidas as evidências com as referências apropriadas.


NOTAS
1Obras Politicas e Litterarias de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Recife, Typographia Mercantil, 1875, p. 289. (MONTENEGRO, 1978, p. 88)


REFERENCIAS
____ - Os escritos políticos de Frei Caneca - PUC – CD 0710591/CA – Disponível em: <http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/15312/15312_3.PDF> acessado em 31/01/2017.
- FERREIRA, Antonio do Carmo - Discurso d ao ensejo das homenagens prestadas ao Ir.’. do Amor Divino, Frei Caneca - Forte de Cinco Pontas – Recife, 2013 - Disponível em: <http://domcarmo.blogspot.com.br/2013/03/informabim-326-e-b.html> consultado em: 30/01/2017.

- MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa - O LIBERALISMO RADICAL DE FREI CANECA – Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1978 – disponível em <http://www.cdpb.org.br/frei_caneca_j_alfredo.pdf> acessado em 30/01/2017.

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