quarta-feira, 1 de março de 2017

Rivalidade maçônica e ideológica entre José Bonifácio e Gonçalves Ledo

Por Arthur Feitosa Vieira Monteiro, 01/02/2017

Existe uma simbiose entre a história da maçonaria e independência do Brasil, haja vista as diferentes posições e visões de alguns maçons influentes na maçonaria bem como no império, dentre os quais destacamos dois nomes importantes, José Bonifácio e Gonçalves Ledo. Protagonistas de articulações a frente e nos bastidores do recém-fundado Grande Oriente e influências na máxima esfera imperial. Para um melhor entendimento da rivalidade entre estes dois maçons, é de suma importância conhecer uma síntese da biografia destes notáveis líderes brasileiros.


Joaquim Gonçalves Ledo, na maçonaria recebeu o nome histórico de Diderot. Nasceu no Rio de Janeiro-RJ em 1781, Mudou-se para Coimbra onde tem o seu curso de Medicina incompleto. Ao retornar para o Brasil trabalhou no Exército. Trabalhou de forma bastante atuante nos movimentos pela independência do Brasil. Participou na maçonaria e fez dela o celeiro das ideias de liberdade do país. Em 1821 fundou com o cônego Januario Barbosa um jornal intitulado Revérbero Constitucional Fluminense, que teve como foco o movimento de independência do Brasil, jornal este que buscava a integração e nacionalismo. Participou para a reerguimento da Loja Comércio e Artes. Com articulação de Gonçalves Ledo e Domingos Barreto entregaram o título de Defensor Perpétuo do Brasil ao D. Pedro em 13 de maio 1822. Foi eleito deputado, foi perseguido e processado em outubro de 1822 pelo seu rival e Ministro de Estado José Bonifácio. Em seguida o Grande Oriente do Brasil foi fechado, e fugiu acompanhado de Januário, Alves e Clemente para que não fossem presos ou deportados. Com o enfraquecimento dos Andradas, em julho do ano seguinte voltou ao Brasil e assumir o cargo de deputado o qual havia sido eleito e permaneceu no cargo até 1834. Nos anos 1831 e 1832 trabalhou para o soerguimento do Grande Oriente. Faleceu no dia 19 de maio de 1847.

José Bonifácio de Andrada e Silva. na maçonaria recebeu o nome histórico de Pitágoras. Nasceu em Santos-SP em 1763. Estudou Ciências Naturais em Coimbra, estagiou na Alemanha, Itália, França Dinamarca e Suécia. Foi primeiro professor de Metalurgia da Universidade de Coimbra. Pertenceu a diversas entidades científicas da Europa. Dominava vários idiomas tais como francês, grego, latim, alemão e inglês. Participou como tenente-coronel da resistência da invasão das tropas de Napoleão. Retornou ao Brasil em 1819 e participou ativamente na política.. Em 1821, foi vice-presidente da Junta Governativa de São Paulo e, a 24 de dezembro do mesmo ano, redigia o ofício dos paulistas a D. Pedro. Em 18 de janeiro de 1822, nove dias depois do "Fico", José Bonifácio chegava ao Rio para assumir o Ministério do Reino e de Estrangeiros. Quando da fundação do Grande Oriente, a 17 de junho, foi escolhido Grão-Mestre pela sua influência política. Fundou a Nobre Ordem dos Cavalheiros de Santa Cruz ou o Apostolado para a luta pela independência. Trabalhou na construção da Marinha de Guerra. Discordava do grupo de Gonçalves Ledo, pois pregava uma independência com união do Brasil com Portugal ao invés da total emancipação. Por ser muito influente com D. Pedro, iniciou-se muitos atos de hostilidade e perseguição ao grupo de Gonçalves Ledo, que prontamente era respondido. Em 17 de julho de 1823, ocorreu sua queda, seguida de prisão e desterro. Só voltaria ao país em 1829 e, após a abdicação de D. Pedro I e a pedido deste, tornou-se tutor do futuro D. Pedro II. Ainda em 1831, participaria da reinstalação do Grande Oriente, voltando a ser seu Grão-Mestre. Em 1832 foi destituído da tutoria, processado, preso e absolvido, posteriormente. Faleceu em Niterói em 6 de abril de 1838.

Na fundação do Grande Oriente Brasiliano, em 28 do terceiro mês de 5822 V.L. o maçom José Bonifácio de Andrada e Silva foi nomeado Grão-Mestre Geral e eleito como Primeiro Grande Vigilante o maçom Joaquim Gonçalves Ledo. O Grupo de Gonçalves Ledo, contra a opinião do grupo de José Bonifácio, promoveu a iniciação de D. Pedro com interesses políticos, que após três dias foi elevado a mestre maçom. Por sugestão de Gonçalves Ledo, Dom Pedro é aclamado Grão-Mestre do Grande Oriente Brasiliense. José Bonifácio ficou insatisfeitoao ser destituído do cargo.

Gonçalves Ledo, pelo Partido Libebral, com o ideal republicano, trabalhava para o rompimento total da submissão e relações do Brasil com Portugal, ou seja, a Independência do Brasil. José Bonifácio, pelo partido Andradista, com o ideal monarquista, trabalhava para um movimento de emancipação política e manutenção das relações com a corte portuguesa com a união das coroas e defendia que as lideranças políticas fossem esclarecidas e cultas para manutenção e integração política e econômica do Brasil.

Gonçalves Ledo merece destaque na história da maçonaria brasileira e na independência do Brasil. Fatos que foram obscurecidos, por influência do seu rival e José Bonifácio, ambos maçons embora divergentes nos interesses e perspectivas do futuro político Brasileiro.

Gonçalves Ledo foi um dos maiores maçons Brasileiros e foi um dos mais injustiçados pelos historiadores brasileiros, pois não existem muitos registros da sua participação decisiva nos movimentos da independência brasileira.

REFERÊNCIAS

- ALENCAR, Renato de - Enciclopédia histórica do mundo maçônico – Tomo II – Rio de Janeiro – Editora Maçônica, 1980.
- BATISTA, Walter – Gonçalves Ledo - Disponível em <http://www.goncalvesledo.org/joaquim-goncalves-ledo>, consultado em 28/01/2017.
- CASTELLANI, José e CARVALHO, William Almeida de, - História do Grande Oriente do Brasil – São Paulo, Editora Madras, 2009.
- COSTA, Emília Viotti da – Da monarquia à república: momentos decicivos – São Paulo – Fundação Editora da UNESP, 1999.
- GUIMARÃES, João – Tudo o que seu mestre mandar – Brasília – DF – Academia de Letras de Brasília – 2009.
- LIMA, Gleiton Luiz de – Formação social, política e econômica do Brasil – São Paulo – Editora Pearson Edutarion do Brasil, 2009
- PEREIRA, Juvenal Antunes – Mistérios maçônicos, símbolos perdidos e rastros de intolerância – Brasília – DF – Editora e Gráfica ALPHA, 2011.
- VARELLA, João Marcos Varella - O conflito entre Ledo e José Bonifácio – Disponível em: <http://mictmr.blogspot.com.br/2005/12/o-conflito-entre-ledo-e-jos-bonifcio.html>, consultado em 28/01/2017.

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